Apesar do trabalho voluntário de castrar e dar comida aos felinos para diminuir a população, as ações são mal recebidas pelo síndico
Uma moradora do condomínio Mansões Colorado recebeu multa de R$ 1,1 mil por alimentar gatos de rua, inclusive um com câncer que foi abandonado no residencial. Conforme diz o documento, o ato é uma infração ao regimento interno.
A penalização foi enviada a Juracema Barroso, que reside em uma casa do conjunto A. Ela conta que vem cuidando dos felinos como uma tentativa de reduzir aquela população, mas não recebe o apoio da administração. “O único jeito de evitar que a colônia continue crescendo é castrando e alimentando, não sei o que o síndico quer que seja feito com os animais”, comenta.
Segundo ela, com a ajuda de mais dois moradores, 12 gatos já foram castrados e todo o procedimento foi pago com dinheiro deles próprios. Além disso, ração e água vem sendo disponibilizada. “A reclamação anterior é que não poderíamos fazer isso fora de casa. Dessa forma, passamos a colocar o alimento na varanda ou telhado”, explica.
Ainda assim, há o caso de um bichano que passou a ser rejeitado pela colônia após desenvolver câncer. Dessa forma, ele não chega perto de outros animais. “Ele só come debaixo do meu carro, que fica perto do portão. Eu não vou deixá-lo sem comida para morrer, mas aproveitaram essa situação para dizer que estou alimentando do lado de fora e deram a multa”, relata.
“Fiquei muito aborrecida com o jeito que isso tudo foi conduzido. Não vou pagar esses R$ 1,1 mil, até porque existe uma lei, aprovada no ano passado, que permite a criação destes animais que moram na rua”, defende.
A lei a qual Juracema se refere é a 6.612/2020, de autoria do deputado distrital Daniel Donizet (PL). O texto diz que o animal comunitário “pode ser mantido no local em que se encontra sob a responsabilidade de um tutor”. Para isto, basta que os responsáveis “se disponham voluntariamente a cuidar deste animal”.
Priscyla Kowalczuk, vizinha de Juracema, é outra moradora do condomínio que cuida dos animais. Ela não recebeu multa, mas um termo que a responsabiliza por qualquer dano que os gatos venham a causar. “Existem alguns moradores que odeiam os animais. Dizem que quebram telha, risca o carro. Mas aqui em casa, onde entram todos os dias, isso nunca aconteceu. Outros têm gatos de estimação, mas não castram e isso gera briga entre os próprios bichos”, relata.
Ela diz que não é possível simplesmente parar de dar alimento. “Fiz isso uma vez e foi um inferno. Eles ficam se atacando e fazendo muito barulho”, diz.
Quem também reclama da intransigência é Edmar José Amaral, que afirma ter sido acordado durante a madrugada de quarta-feira (28/4) com um vigilante do condomínio andando pelo jardim. “Eram 5h45 da manhã e o cara estava tirando foto do meu carro, da minha porta. Tudo para pegar os pratinhos de comida que deixo para os gatos”, lembra.
Ele diz que os vizinhos chegaram a criar uma associação de moradores que protegem animais, propostas foram enviadas para resolver os problemas dos gatos, mas nada teve resultado. “Demorou meses até conseguirmos uma reunião para dizer que precisaria convocar o conselho para aprovar uma assembleia. Nunca saiu nada do papel”, lamenta.
O outro lado
A reportagem ligou várias vezes para o Condomínio Mansões Colorado, oportunidade em que foi explicado aos porteiros sobre a necessidade de conversar com o síndico Antônio Batista. Apesar dos pedidos, não houve retorno. O espaço permanece aberto para eventuais manifestações.
Fonte: https://www.metropoles.com