A Polícia Civil do Rio Grande do Sul deflagrou, na manhã desta quarta-feira (12), uma operação que resultou na prisão de oito pessoas suspeitas de integrar uma organização criminosa que dominava o Condomínio Vila Germânica, no bairro Santos Dumont, em São Leopoldo, Região Metropolitana de Porto Alegre.
De acordo com as investigações, a facção utilizava o condomínio como base para o tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e intimidação de moradores, além de ter infiltrado o antigo síndico na gestão, que desviava recursos do caixa condominial para financiar as atividades ilegais.
No total, foram cumpridos 13 mandados de prisão e mais de 30 de busca e apreensão em São Leopoldo, Novo Hamburgo, Porto Alegre e Charqueadas.
Ameaças ao novo síndico e à equipe de apoio
Após a destituição do antigo síndico, um novo administrador foi eleito pelos moradores, com apoio jurídico para reorganizar a gestão e regularizar as contas do condomínio. No entanto, o grupo criminoso reagiu com ameaças diretas.
Em um dos áudios interceptados pela polícia, um dos integrantes da facção envia uma mensagem ao advogado contratado pelos condôminos, dizendo:
“Tu não é juiz. Tu não é promotor. Tu foi o advogado contratado pelo condomínio. Não te envolve com o que não te condiz. Tu não é de aço, a facção é bem forte. Qual é o problema de tu sair? Teus honorários valem mais que a tua vida?”
O advogado relatou viver sob constante vigilância e medo:
“Tudo isso pra mim gerou um terrorismo total. Minha família toda está com receio. Eles me ligam o tempo todo pra saber onde estou. Mas a gente estudou pra isso e espera que os órgãos nos deem força para intervir nessa situação”, afirmou.
Condomínio sob domínio criminoso
Segundo a Polícia Civil, o condomínio foi utilizado como abrigo para membros da facção e para o esquema de lavagem de dinheiro. A empresa de segurança que prestava serviços ao empreendimento também estaria sob controle do grupo.
Durante o período em que o antigo síndico esteve no cargo, cerca de cinco anos, os criminosos desviaram valores das taxas condominiais, resultando em uma dívida superior a R$ 5 milhões, especialmente com contas de água e despesas administrativas.
Moradores relatam que, além da intimidação constante, alguns foram coagidos a deixar o prédio, o que aumentou o clima de insegurança na comunidade.
Assembleia sob escolta policial
Diante das ameaças, a última assembleia de moradores precisou ser realizada dentro do Fórum de São Leopoldo, no dia 22 de setembro, com a presença da polícia. O encontro marcou a destituição dos membros ligados à facção e a eleição de uma nova gestão condominial.
O antigo síndico, apontado como integrante da organização criminosa, havia falecido em agosto deste ano. Após sua morte, o grupo tentou manter o controle nomeando o subsíndico como sucessor, o que levou os moradores a se mobilizarem judicialmente para retomar o condomínio.
Governança, segurança e prevenção
O caso do Condomínio Vila Germânica expõe a vulnerabilidade de condomínios em áreas de risco e reforça a importância de boas práticas de governança, transparência e compliance condominial.
Especialistas destacam que a ausência de auditorias regulares, controles financeiros e acompanhamento jurídico pode abrir espaço para infiltração de grupos criminosos ou fraudes internas.
A adoção de síndicos profissionais qualificados, empresas terceirizadas idôneas e sistemas de gestão digital é essencial para garantir segurança administrativa e patrimonial dos moradores.
Investigações continuam
A Polícia Civil segue apurando a extensão dos desvios e identificando outros possíveis envolvidos. Novas prisões e medidas judiciais podem ser adotadas nos próximos dias.
Enquanto isso, os novos representantes do condomínio e o advogado responsável permanecem sob proteção e monitoramento das autoridades.
Reflexão do Universo Condomínio
Casos como este reforçam que o papel do síndico vai muito além da gestão de contas e manutenção predial. Ele envolve liderança, responsabilidade legal e compromisso ético com a segurança coletiva.
A profissionalização da gestão e a vigilância constante sobre a origem de fornecedores e colaboradores são fundamentais para proteger a integridade dos condomínios e de quem vive neles.





