Um caso de herança envolvendo um apartamento avaliado em cerca de R$ 2 milhões, localizado na Avenida Oswaldo Cruz, no Flamengo (RJ), está no centro de uma acirrada disputa judicial. O imbróglio envolve dois testamentos, dois inventários, questionamentos sobre a saúde mental da falecida e acusações entre o sobrinho herdeiro e duas ex-cuidadoras do casal de idosos que deixou o patrimônio.
Entenda o caso
O casal em questão é formado por Tadeusz Edmund Hollup, contador polonês, e Cionyra Ceres de Araújo Hollup, secretária aposentada da Petrobras. Juntos por 66 anos e sem filhos, eram conhecidos por praticar escaladas, mesmo na terceira idade.
Em 2007, ainda em vida, o casal lavrou um testamento conjunto, deixando todos os bens ao sobrinho Vítor Hollup. No entanto, após a morte de Tadeusz em agosto de 2018, Cionyra lavrou um novo testamento, em dezembro do mesmo ano, destinando sua parte da herança às duas cuidadoras que a assistiram nos últimos anos de vida: Maria de Lourdes Barbosa Soares (60%) e Gilcilene Souza Martins (40%).
Disputa judicial e acusações
O novo testamento é o principal ponto de conflito. O sobrinho questiona sua validade, alegando que a tia, à época da assinatura, estava com demência avançada e não teria condições mentais de tomar decisões patrimoniais. Ele entrou com ação para anular o documento.
Por outro lado, as ex-cuidadoras sustentam que Cionyra estava lúcida e decidiu por vontade própria deixar seus bens às pessoas que a acompanhavam diariamente. Elas afirmam que o relacionamento da idosa com o sobrinho era distante.
Imóvel com dívidas e pedido de desocupação
Além da disputa sobre a validade dos testamentos, o imóvel — o principal bem da herança — acumula mais de R$ 132 mil em dívidas de condomínio, IPTU e taxa de incêndio, segundo dados atualizados até setembro de 2025.
O advogado de Vítor Hollup entrou com pedido liminar para a desocupação do imóvel, atualmente sob posse das cuidadoras, e para o pagamento das dívidas acumuladas.
Perícia e investigação do MPRJ
A 12ª Vara de Órfãos e Sucessões do Rio de Janeiro determinou a realização de uma perícia indireta para avaliar a capacidade mental de Cionyra no momento da lavratura do segundo testamento, com base em documentos médicos. O perito inicialmente nomeado alegou não ter especialização suficiente, e o processo aguarda um novo especialista.
Paralelamente, o Ministério Público do Rio de Janeiro abriu investigação para apurar se houve alguma interferência indevida das cuidadoras no estado de saúde da idosa. A Corregedoria de Justiça destacou que, em 2018, não era obrigatória a apresentação de laudo de sanidade mental para testamentos presenciais de idosos, exigência que passou a valer somente em 2021, com a obrigatoriedade de vídeo para testadores com mais de 80 anos.
Mais bens em jogo
A disputa não se limita ao apartamento. A Justiça também analisa a existência de outros ativos, como um carro de luxo, investimentos financeiros e possíveis valores em contas bancárias e ações.
O processo segue em tramitação, e ainda não há definição sobre a validade do segundo testamento, a partilha dos bens ou a desocupação do imóvel. A briga jurídica continua envolvendo questões delicadas de capacidade civil, vínculos afetivos e indícios de má-fé.