Ao ministrar palestras sobre segurança em condomínios, por diversas vezes me deparei com moradores que aparentam estar constantemente insatisfeitos. Antes mesmo de iniciar o evento, é comum que o síndico ou algum conselheiro me alerte sobre a presença do famoso “morador cri-cri”.
Trata-se, geralmente, de um condômino antigo, resistente a mudanças, com perfil excessivamente fiscalizador. Ele dificilmente aceita opiniões contrárias, não admite estar errado e raramente volta atrás em seus posicionamentos, mesmo quando confrontado com fatos.
Notei também que esse tipo de morador costuma comparecer sozinho às reuniões e, quase sempre, senta-se ao fundo da sala. Sua expressão é fechada, e parece carregar consigo uma energia negativa, como se estivesse pronto para atacar ao menor sinal de discordância. Ele já chega munido de estratégias com dois principais objetivos:
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Impor sua vontade, seja por meio de argumentos infundados ou intimidação;
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Causar tumulto, caso perceba que sua opinião não será acolhida, com o intuito de desestabilizar o ambiente e impedir a continuidade ou a votação da pauta.
Lembro de um episódio em que eu explicava o funcionamento da chamada “Portaria Virtual”. Durante a apresentação, um morador ergueu a mão e, sem rodeios, afirmou em voz alta:
“Quero avisar a todos que os prédios que implantaram esse tipo de atendimento à distância sofreram desvalorização de 50% nos imóveis!”
Imediatamente, o burburinho tomou conta do salão — afinal, nenhum morador gostaria de ver seu patrimônio desvalorizado nessa proporção.
Com serenidade, perguntei ao morador:
“Por gentileza, de onde o senhor obteve essa informação? Desconheço totalmente qualquer dado que comprove isso.”
Ele respondeu, de forma ríspida:
“Pesquisei na internet antes de vir para a reunião e encontrei vários estudos sobre o assunto.”
Na mesma hora, acessei a internet pelo data show e, diante de todos, comecei a buscar tais informações. O silêncio foi imediato. Como esperado, não encontrei nenhuma referência confiável que confirmasse tamanha desvalorização. Pelo contrário: diversos veículos especializados apontavam que, após a implantação da portaria virtual, os imóveis valorizaram, principalmente por dois motivos:
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Aumento da segurança no condomínio;
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Redução dos custos com a taxa condominial.
Diante de experiências como essa, deixo abaixo algumas recomendações importantes para síndicos e administradores lidarem de forma profissional com o chamado morador “cri-cri”:
Dicas para uma gestão eficiente diante de moradores difíceis:
a) Esteja sempre munido de informações sólidas e comprovadas por especialistas. Compartilhe esses dados com todos os moradores, de forma clara e acessível.
b) Registre em ata qualquer tipo de acusação ou agressão verbal. Isso pode servir como prova, caso seja necessário acionar a polícia ou o Judiciário.
c) Em casos extremos, considere filmar a reunião e até contratar segurança privada, caso haja indícios de que os ânimos estarão exaltados. Há relatos de agressões físicas em assembleias.
d) Se o morador insatisfeito espalhar e-mails ou mensagens por celular denegrindo a imagem do síndico ou da administração, ou fazendo acusações sem provas, é fundamental acionar o departamento jurídico do condomínio para que as medidas legais cabíveis sejam tomadas — tanto na esfera cível quanto criminal.
Lidar com o morador “cri-cri” exige preparo, paciência e, principalmente, profissionalismo. Com estratégia e firmeza, é possível manter a ordem e garantir o bom andamento da gestão condominial.